O
primeiro livro que li do Jonas Pessoa foi Lamentos, nos idos de 2017,
alguns anos depois eu tenho diante dos meus olhos os originais de Arraia
de Vidro e percebo agora uma nítida evolução do autor e
permanece, como não poderia deixar de ser em se tratando de literatura, o mesmo
e velho impasse. Se no livro anterior esse impasse se dava mais pelo caráter
social, agora o dilaceramento do eu poético permeia toda a obra e não há uma
possibilidade de redenção, sequer de congraçamento. É sempre o choque e o
estampido.
Descer
uma escada de costas parece ser razoável quando no cimo não há nada e as
crianças morrem de “balas achadas” e não “balas perdidas”, pois acharam elas,
as crianças, ao rés do chão.
Talvez
a maior ironia do livro seja contrapor algumas alegrias da infância, como
empinar papagaios de papel quando o ouvido se fecha aos ecos dos gritos das
necessidades. O poeta parece sentir o baque da realidade cruel e busca,
momentaneamente, instaurar o espaço do lúdico nos fios frágeis da infância.
Nas
andanças do poeta Jonas o mesmo idílio se estabelece num lugar utópico de
convergência do humano numa época extremamente distópica como esta em que
vivemos. Não está fácil e é preciso
suportar e superar o entrechoque “mesmo que o fardo pese é preciso transpor,
ruminando seus silêncios como quem está admirando os vitrais de uma catedral”.
Há
neste livro do Jonas algumas belas imagens realistas que você pode ir pinçando
aqui e acolá como lampejos sobre um mesmo ponto cego como se fossem “cantigas
de ninar homens sem dentes”. Então, como se num sonho do impossível o poeta
finaliza dizendo “a palavra é para mim a chave que destrava as algemas da
língua e me liberta da prisão do silêncio”. Arraia de Vidro, é então
um livro sobre silêncios e distâncias.
“Nenhuma palavra quebra-me a taciturnidade,/
construí o lar em cima do alicerce do silêncio,/
como não havia nada a dizer,/
fui edificando o exílio/
lá onde a luz está sempre apagada.”
Opa, meu querido, grato pela sua contribuição ao livro
ResponderExcluirparabéns pelo livro Jonas, foi um prazer escrever este pequeno texto.
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