A
literatura em Ervália existe e resiste desde sempre. Sempre tivemos aqui poetas
e prosadores que no seu devido tempo deixaram seus escritos, registros de uma
vida e de uma época que se esgotava, sem muitas formas de divulgação para se perpetuar.
Antigamente
não existiam os meios e as facilidades de que hoje dispomos, tais como a
imprensa através de jornais, revistas e livros. Muito menos os meios
cibernéticos hoje altamente difundidos e acessíveis a quase todo mundo. Refiro-me
à internet e suas inúmeras janelas que ela abre para a exposição de conteúdos.
Da
minha infância lembro-me do Quidinho, ou Kid ou pelo seu nome completo:
Euclides Franklin Júnior. Conheci-o como consertador de rádios e televisores e era
um sujeito bastante “excêntrico”: dormia de dia e trabalhava de noite, quando a
iluminação precária da cidade, sendo menos utilizada neste horário,
permitia-lhe trabalhar em melhores condições.
Mais,
além disso, eu não sabia, e só vim conhecer a história dele já na minha idade
adulta, através do contato e do conhecimento que eu estabelecera com o nosso
grande poeta e tradutor Ivo Barroso. Então eu soube que o Quidinho era uma
sumidade nas letras e um homem extremamente culto e inteligente, mas não tendo
os recursos disponíveis que temos hoje não pode prosperar e deixar-nos o legado
da sua sabedoria.
Então,
dessa forma e por essa época é que conheci o Ivo Barroso. Eu já havia publicado
dois livros e enviei-os para ele no Rio. Ele gostou e a partir daí nós mantemos
uma correspondência literária que chega até os dias de hoje.
Foi
dele a ideia de, junto comigo, realizarmos um concurso literário para a
juventude ervalense visando, quem sabe, descobrir algum (novo) talento
escondido ou alguma promessa literária para o futuro.
Esse
concurso teve o patrocínio da Câmara dos Vereadores e foi realizado em 2016,
com diversas inscrições e premiações. Um acontecimento. Mas, infelizmente, não
apontou nenhum nome que se destacasse como promessa literária, mas valeu a
iniciativa e serviu para, talvez, quem sabe, estimular alguns daqueles jovens a
insistir e persistir e evoluir nesse caminho.
Em
2015 a E. E. Professor David Procópio realizou um Sarau Musical e para o evento
imprimiu alguns banners com os trabalhos dos participantes e então eu pude
conhecer um poema do Anatole Ramos, já falecido, que admirei bastante.
Isso
demonstra o quê: que há muito por se descobrir e fazer pela literatura
ervalense, tomada como um todo. A criação deste Fórum Ervalense de Cultura
pode, no rastro dessa lei Aldir Blanc “potencializar uma cultura que emerge,
que pode ter impulso para emergir e criar condições de leitura e recepção da
literatura na cidade”, no dizer do Cristiano Durães.
Da
minha geração é mais fácil eu falar, pois vivi e convivi com alguns deles,
tendo a oportunidade de conhecer seus trabalhos no momento mesmo em que estavam
sendo produzidos. Eu poderia destacar o Marcelo Serodre, autor já com alguns
livros publicados de ótima qualidade literária e estética.
Por
ocasião das minhas pesquisas para escrever o livro “De São Sebastião dos
Aflitos a Ervália – Uma introdução” eu pude ter conhecimento de diversos outros
autores ervalenses desconhecidos para mim até então: Hélio Taveira, Paulo
Toledo, Pedro Pimentel, e o Vicente Caetano.
E
tive a grata surpresa de “descobrir” do fundo do tempo uma poesia chamada
“Décima” que narra o episódio da morte por assassinato do João Nicolau, espécie
de “Cangaceiro do Herval”, composição de autoria desconhecida que além do seu
valor histórico foi muito bem escrita e estruturada.
Da
safra nova eu tive a alegria de poder estar conhecendo agora as produções do
Túlio Mattos, do Juliano Oliveira, do Tarcísio Popó e do Cristiano Durães. Até
comentei com o Ivo dessa satisfação que é poder perceber que novos talentos vão
surgindo em nossa Ervália, levando adiante o bastão, pois eu sempre tive para
mim que a literatura é uma corrida de revezamento.
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