domingo, 7 de maio de 2023

A LITERATURA EM ERVÁLIA


A literatura em Ervália existe e resiste desde sempre. Sempre tivemos aqui poetas e prosadores que no seu devido tempo deixaram seus escritos, registros de uma vida e de uma época que se esgotava, sem muitas formas de divulgação para se perpetuar.

Antigamente não existiam os meios e as facilidades de que hoje dispomos, tais como a imprensa através de jornais, revistas e livros. Muito menos os meios cibernéticos hoje altamente difundidos e acessíveis a quase todo mundo. Refiro-me à internet e suas inúmeras janelas que ela abre para a exposição de conteúdos.

Da minha infância lembro-me do Quidinho, ou Kid ou pelo seu nome completo: Euclides Franklin Júnior. Conheci-o como consertador de rádios e televisores e era um sujeito bastante “excêntrico”: dormia de dia e trabalhava de noite, quando a iluminação precária da cidade, sendo menos utilizada neste horário, permitia-lhe trabalhar em melhores condições.

Mais, além disso, eu não sabia, e só vim conhecer a história dele já na minha idade adulta, através do contato e do conhecimento que eu estabelecera com o nosso grande poeta e tradutor Ivo Barroso. Então eu soube que o Quidinho era uma sumidade nas letras e um homem extremamente culto e inteligente, mas não tendo os recursos disponíveis que temos hoje não pode prosperar e deixar-nos o legado da sua sabedoria.

Então, dessa forma e por essa época é que conheci o Ivo Barroso. Eu já havia publicado dois livros e enviei-os para ele no Rio. Ele gostou e a partir daí nós mantemos uma correspondência literária que chega até os dias de hoje.

Foi dele a ideia de, junto comigo, realizarmos um concurso literário para a juventude ervalense visando, quem sabe, descobrir algum (novo) talento escondido ou alguma promessa literária para o futuro.

Esse concurso teve o patrocínio da Câmara dos Vereadores e foi realizado em 2016, com diversas inscrições e premiações. Um acontecimento. Mas, infelizmente, não apontou nenhum nome que se destacasse como promessa literária, mas valeu a iniciativa e serviu para, talvez, quem sabe, estimular alguns daqueles jovens a insistir e persistir e evoluir nesse caminho.

Em 2015 a E. E. Professor David Procópio realizou um Sarau Musical e para o evento imprimiu alguns banners com os trabalhos dos participantes e então eu pude conhecer um poema do Anatole Ramos, já falecido, que admirei bastante.

Isso demonstra o quê: que há muito por se descobrir e fazer pela literatura ervalense, tomada como um todo. A criação deste Fórum Ervalense de Cultura pode, no rastro dessa lei Aldir Blanc “potencializar uma cultura que emerge, que pode ter impulso para emergir e criar condições de leitura e recepção da literatura na cidade”, no dizer do Cristiano Durães.

Da minha geração é mais fácil eu falar, pois vivi e convivi com alguns deles, tendo a oportunidade de conhecer seus trabalhos no momento mesmo em que estavam sendo produzidos. Eu poderia destacar o Marcelo Serodre, autor já com alguns livros publicados de ótima qualidade literária e estética.

Por ocasião das minhas pesquisas para escrever o livro “De São Sebastião dos Aflitos a Ervália – Uma introdução” eu pude ter conhecimento de diversos outros autores ervalenses desconhecidos para mim até então: Hélio Taveira, Paulo Toledo, Pedro Pimentel, e o Vicente Caetano.

E tive a grata surpresa de “descobrir” do fundo do tempo uma poesia chamada “Décima” que narra o episódio da morte por assassinato do João Nicolau, espécie de “Cangaceiro do Herval”, composição de autoria desconhecida que além do seu valor histórico foi muito bem escrita e estruturada.

Da safra nova eu tive a alegria de poder estar conhecendo agora as produções do Túlio Mattos, do Juliano Oliveira, do Tarcísio Popó e do Cristiano Durães. Até comentei com o Ivo dessa satisfação que é poder perceber que novos talentos vão surgindo em nossa Ervália, levando adiante o bastão, pois eu sempre tive para mim que a literatura é uma corrida de revezamento.

 


 

 

 


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