quinta-feira, 10 de agosto de 2023

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

terça-feira, 8 de agosto de 2023

domingo, 6 de agosto de 2023

segunda-feira, 31 de julho de 2023

domingo, 4 de junho de 2023

NA RUA DOS IPÊS AMARELOS



ESPERO POSTAR TODOS OS DIAS, NESTE GRUPO E NO MEU BLOG, ALGUMAS HOMENAGENS E DIVULGAÇÃO DE LIVROS DE AUTORES E AUTORAS DO MEU CONHECIMENTO, ALÉM DOS MEUS PRÓPRIOS, COM PEQUENAS SINOPSES DE LIVROS, POEMAS, FOTOGRAFIAS E MINIBIOGRAFIAS.
SINOPSE NA RUA DOS IPÊS AMARELOS
Em Belo Horizonte, Maria São Pedro recebe a notícia da futura instalação de um museu da FEB na cidade onde nascera. Como é filha de ex-combatente da Segunda Guerra, decide ser voluntária nos trabalhos do museu. Já no interior, enquanto Maria São Pedro ajuda Afonso e Mercedes nos trabalhos, retoma a escrita de uma história sobre os pracinhas daquela cidade. Quer saber se alguém na cidade conheceu o soldado que retornara com traumas, pois esse assunto era recorrente nas histórias de guerra contadas pelo seu pai. Durante as pesquisas, Maria São Pedro descobre parte de um diário de guerra publicado em jornal de 1945. Depois, tem acesso ao diário na íntegra e fica sabendo nome do autor, um dos pracinhas da cidade. Maria São Pedro aguarda contato de um parente do autor do diário e enquanto isso sai em busca dos outros pracinhas que participaram diretamente no front da 2ª guerra, acreditando que um deles seria o soldado neurótico. Paralelamente a essa busca, acontece outra história, que se passa no ano de 1944, em terceira pessoa, narrada em rezas nos nove dias que antecedem a partida dos convocados, tendo como personagem central a tia de Maria São Pedro, que possui mesmo nome. A narradora descobre que seis, dos dezenove ex-combatentes da cidade, tomaram parte ativa no front, e entre eles poderia estar o soldado que tivera traumas. Recebe, então, informações sobre um ex-combatente que ficara neurótico, e no endereço indicado, descobre que o pracinha mencionado não era o autor do diário. Depois disso, confirma que alguns dos outros pracinhas também haviam sofrido sequelas da guerra. Numa circunstância inesperada, Maria São Pedro vai ao encontro de pessoas que conheceram o autor do diário e confirma-se o trauma adquirido na guerra. Durante a trama, o diário de guerra é publicado em duas partes. A inauguração do museu acontece oito meses após a chegada de Maria São Pedro na cidade. No ano de 1944, acontece a última reza antes da partida dos convocados para a guerra.
BIOGRAFIA
Liliam de Fátima Ribeiro nasceu em Varginha (MG) em outubro do ano de 1955. Cursou Letras e Direito em Belo Horizonte (MG), onde reside atualmente. Aposentou-se em 2014 pelo Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais. Do final dos anos noventa até 2010, foi selecionada para quatro coletâneas de contos, pelo Sindicato dos Professores/MG e pela Asttter (TRT3ª Região). O romance “Na Rua dos Ipês Amarelos”, de 2020, é sua primeira publicação individual. Enquanto trabalha em seu segundo romance, tece poemas sobre temas diversos, ainda inéditos.







o

quinta-feira, 1 de junho de 2023

COLETÂNEA CEMITERIAL



adquira o meu e-book "Coletânea Cemiterial", pela Kindle/Amazon por apenas 9,99.

Sinopse:
Trata-se de uma coletânea de diversos poemas que giram todos em torno dos cemitérios e seus mistérios. Daí seu caráter um tanto mórbido e ao mesmo tempo com um fator filosófico que permeia a escrita do autor Milton Rezende.
Para quem aprecia uma literatura meio clássica e meio gótica encoberta por um pano de fundo paranormal e sobrenatural, com seus rituais sombrios: assombrações, suicídios, necrofilia e loucuras do além túmulo, donde se pode perguntar: o que acontece em um cemitério? Como numa procissão macabra de pessoas e seres que entravam e saiam deste cemitério, vagando e perambulando em meio a podridão num ambiente lúgubre, cinzento e melancólico.
O autor desenvolve o tema numa linguagem enxuta, às vezes rebuscada, mas direta e podíamos até dizer um tanto clássica, apesar de ser intensa e sutil ao mesmo tempo que nos remete a autores como Augusto dos Anjos, Edgar Alan Poe e Lovecraft.
Saltando as grades deste cemitério podemos observar pessoas bêbadas, perdidas, extraviadas de si mesmas e que buscam como numa mágica desvendar os mistérios neste ambiente onde o hálito da morte com seus cheiros nauseabundos transmitem uma energia singular.
Neste ambiente escuro e chuvoso, triste e melancólico torna-se crucial, como num paradoxo de existir, onde ainda podemos encontrar flores, coqueiros e ninhos de pássaros agourentos ou não.

terça-feira, 23 de maio de 2023

TEMPO DE POESIA EM ÉPOCA DE REDES SOCIAIS


Por Patrick Ariel

 

Adquiri num evento de uniersidde o livro recém-lançado sobre o poeta Milton Rezende. Praticamente passou despercebido tanto o autor quanto os seus poemas e essa dissertação resgata esse lapso inconcebível e inicia a fortuna crítica do autor mineiro.

 

Trata-se do livro “Tempo de Poesia: Intertextualidade, Heteronímia e Inventário Poético em Milton Rezende”, da autora Maria José Rezende Campos, publicado através da Editora Penalux  (2015).

 

O livro já nos pega pela capa que, segundo a autora, é a representação gráfica de um dos poemas do Milton: Obstáculos. Na contracapa, em meio às gotas de chuva do desenho, um comentário do consagrado Ivo Barroso, tradutor de Hesse, Rimbaud, entre tantos outros.

 

As orelhas trazem a apreciação do Prof. Luiz Fernando Medeiros de Carvalho, orientador da autora no mestrado em letras que resultou na presente publicação. O prefácio foi escrito por Anderson Pires da Silva e a apresentação traz a rubrica de Nícea Helena Nogueira, ambos conceituados professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

 

Por esse arcabouço já se pode perceber a excelência da presente e oportuna publicação acadêmica que, no entanto, nos prende pela coloquialidade dissertativa, tornando a leitura palatável e prazerosa desde o primeiro momento. Mérito, sem dúvida, da Maria José que soube “penetrar com denodo e carinho, os meandros mais intricados da obra do nosso Milton”.

 

O livro em questão é dividido em quatro partes ou eixos temáticos que versam sobre a intertextualidade, a heteronímia, o processo de criação e os espectros do Spleen encontrados no poeta Milton Rezende, que já possui nove livros publicados e completa agora, em 2016, trinta anos de estrada literária desde a publicação de “O Acaso das Manhãs”.

 

Repassemos então, em breves pinceladas, os capítulos ou temas estudados, pois temos a plena certeza que nenhum comentário substituirá a completa leitura do livro: como nos filmes em que a sinopse deve servir para aguçar ainda mais a vontade de ver todo o filme. Eu, Patrick Ariel, poeta inédito e estreante, ficaria satisfeito se os eventuais leitores das redes sociais (que conseguiram chegar até aqui) me acompanhassem até o final e fossem além, adquirindo um exemplar do livro e através da leitura e apreciação pessoal, tirassem as suas próprias ideias e conclusões.

 

Já ressentimos muito, desde algum tempo, a morte ou a mordaça das análises críticas nos órgãos de imprensa e a ausência daqueles grandes críticos literários que dissecavam autores e obras em grossos compêndios. Nos tempos de colégio achávamos aquilo maçante e hoje quantos de nós não daríamos tudo para ter de volta os antigos suplementos com seus artigos teóricos.

 

No primeiro capítulo a autora faz um apanhado geral sobre a intertextualidade em seu contexto histórico e correlaciona-a, em particular, com seu objeto de estudo, o poeta Milton Rezende e nos poemas em que ele adota tal procedimento que, em se tratando da poética contemporânea é bastante comum e corriqueiro, assim como o uso das epígrafes. A meu ver essa intertextualidade no autor estudado enriquece sobremaneira os seus escritos sob uma perspectiva dialética em paralelo com autores como Manuel Bandeira, Augusto dos Anjos e Drummond – verdadeiros ícones em que o poeta se espelha, reverenciando e enriquecendo com um olhar próprio e apropriado.

 

No capítulo seguinte é dada ênfase no estudo da heteronímia e, com originalidade, a autora Maria José nos revela um completo panorama deste recurso largamente empregado no fazer poético do Milton. Demonstra que os heterônimos deste autor dialogam com o próprio e entre si mesmos, o que, sem dúvida, é uma particularidade bastante interessante em se tratando do uso de heterônimos, que teve sua expressão máxima com o grande Fernando Pessoa. Aliás, a autora traça esse paralelo entre o poeta português e o fazer poético do Rezende, misto de funcionário público e celebridade rural escondido no anonimato das montanhas de Minas.

 

Na sequência vem uma análise da Maria José, engenheira da palavra e autora perspicaz que agora se depara e se debruça sobre o processo de criação do poeta mineiro, dissecando, discernindo e exemplificando com inúmeras poesias retiradas dos livros do autor, formando desde já uma breve antologia de poemas estudados que poderá ser usada como base para novos estudos, dela própria ou de outros aventureiros dispostos a levar adiante a tarefa de retirar o Milton do limbo acadêmico e levá-lo à apreciação de mais leitores.

 

No último capítulo, a autora se dedica a rastrear os indícios ou resquícios do Spleen na obra do autor, como se fossem espectros do romantismo ainda vivos e remanescentes na contemporaneidade dos temas abordados, tais como o subjetivismo e a morte. Para tanto faz um apanhado global da escola romântica vigente na segunda metade do século XIX e aborda autores como Álvares de Azevedo e sua correlação com a lírica atual e reinventada nas temáticas predominantes do poeta Milton Rezende.

 

Finalmente, para fechar o livro, há um apêndice e um anexo formado por diversas entrevistas com o próprio poeta (concedidas em diferentes períodos e contextos) e também com alguns escritores e poetas amigos, conterrâneos e/ou conhecedores da obra do autor de Ervália.

 

Dito isso, acho que só nos resta ler o livro da Maria José e, através dele, dar um passo e um impulso rumo à obra poética do Milton, descobrindo e desvendando novas sendas de fruição, percepção e compreensão da gênese literária empreendida por este “poeta de escrita tão refinada, familiar aos leitores da poesia moderna, mas ao mesmo tempo estranha aos leitores da atual poesia contemporânea”.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Revista O Bule: 'Boi descomedido' e 'Com um berço nas costas'

Revista O Bule: 'Boi descomedido' e 'Com um berço nas costas': Por Milton Rezende Boi descomedido (Manuel Bandeira, 1886-1968), Opus 1     Como em turvas águas de enchente , Me sinto a meio submergido En...

QUANDO DEUS NÃO É SUFICIENTE


 

Prezada Lica Campolin,

Não farei uma resenha do seu livro porque resenhas geralmente se aplicam a livros de literatura, ficção e o seu livro é um relato, um depoimento pessoal e contundente sobre uma situação dolorosa que você viveu juntamente com o seu filho Júlio que, infelizmente, veio a falecer. Mas é também uma história de vivência e de aprendizado.

O seu livro inicialmente me convidou à leitura devido ao título que achei instigante. Depois reparei e gostei da capa, ainda não sabendo do que se tratava e o que representava. Mas logo você explica que são nomes de alguns doadores de sangue e de medula óssea que fizeram para o seu filho. Então lembrei-me das dezoito transfusões de sangue que tiveram que fazer em mim enquanto eu estive internado e inconsciente no c.t.i por 90 dias.

“primeiro a gente põe o pé,

  depois Deus coloca o chão”

Gostei mais da segunda parte do livro, ou seja, suas reflexões depois da morte do Júlio. Foi, sem dúvida, a melhor parte embora se referisse, na verdade, à pior parte vivida por você, ou seja, a ausência do seu amado filho.

Então, conforme seu convite na contracapa, pulemos juntos neste abismo. Só depois, bem depois é que reparei que aqueles nomes na capa formavam um esboço do rosto do Júlio Campolin. Na verdade, todos nós somos apenas um esboço e não passamos disso e “Deus não é mesmo suficiente”.

Que não se procure no seu livro muita literatura e nem foi esse o seu propósito ao escrevê-lo. Simplesmente teve que escrever para tentar expurgar a dor. Mas há momentos literários no livro como na página 153, um verdadeiro poema.

Vou abrir aqui um parêntesis para explicar o que eu disse anteriormente e o faço com o propósito de compartilhar o que vivenciamos e que, de uma certa forma, se assemelham. Você faz explicitamente um louvor e um agradecimento à equipe médica que cuidou do seu filho, especialmente a um médico em particular. Não tive a mesma sorte.

Em 2016 tive que fazer uma cirurgia aparentemente simples que, por imperícia médica, se complicou e quase perdi a vida, embora persistem e irão persistir pelo resto dos meus dias as sequelas de um derrame cerebral que eufemisticamente chamam de a.v.c. Prefiro a forma antiga quando se denominavam as coisas pelo que elas realmente eram.

Enfim, tive este episódio dentro do próprio c.t.i, num hospital em que entrei para fazer uma simples cirurgia por vídeo e disseram-me que dentro de três dias eu teria alta e depois de quinze dias poderia voltar ao trabalho e à vida normal. Acabei ficando 90 dias entre a vida e a morte, em coma, e estou hoje aposentado por invalidez permanente e irreversível.

Mas como se diz por aí “vida que segue”. Só abri este parêntesis para dizer que eu, estando inconsciente, minha esposa, que estava o tempo todo atuante e ativa vivenciou mais ou menos, ou seja, de uma forma semelhante tudo que você narra em seu livro. Com a diferença de que eu, ao contrário do seu filho, acabei pendendo para o lado da continuidade da vida e até mesmo os próprios médicos dizem não entender como eu pude sobreviver. Mistérios e muitos dizem que deve haver nisso algum propósito que eu não sei qual seja e nem sequer consigo alcançar. Como no seu livro Lica, são perguntas e perguntas e muitas questões para as quais eu acho e acredito que nunca obteremos respostas.

Mas afinal, apesar das dificuldades e das dores que eu sinto, ainda agradeço, pois, o meu cognitivo não foi afetado, como comumente acontece nesses casos, e prossigo escrevendo e publicando os meus livros até a hora fatal e derradeira.

A página 193 do seu livro é maravilhosa e transcrevo-a aqui, desejando que sirva sobretudo para você e para todos aqueles que sofrem. Espero e desejo sinceramente que você possa suplantar como no capítulo final de “Quando Deus não é suficiente”.

 

...”às vezes, o coração rasgado pela dor, vira retalho.

recomenda-se nesse caso,

costurá-lo com uma linha chamada recomeço

é o suficiente”...

(A. Santos)

 


 

 

sábado, 20 de maio de 2023

VIDA ABERTA

 


O COMPÊNDIO DE SOLHA

 

“VIDA ABERTA”, livro recentemente lançado pela Penalux, do poeta/escritor Waldemar José Solha. De tal modo que se alguém perguntar do que se trata o referido livro, mostre a ele o poema do João Carlos Taveira e diga: trata-se disso!

Quatro expressões me acorrem ao terminar de ler, pela segunda vez, o livro do Solha. Conhecimento enciclopédico, poder de observação, erudição e imaginação estupenda. Dir-se-ia ser um longo poema talvez um pouco hermético, mas tão bem estruturado e ritmado que a O João Carlos Taveira sintetizou muito bem a experiência de ler a “VIDA ABERTA” e a dificuldade em grande parte se dilui.

 

“da flecha ao míssil,

tudo segue,

difícil:

insuficiência

em tudo”

 

Um livro com um monte de referências que o enriquecem e até nos atordoam, mas, não sei porque, me remete aos repentistas nordestinos.

 

“se o que leio me bastasse

não escreveria.

por que o faria?”

 

E logo adiante uma espécie de suma poética, escatológica ou estudo das últimas coisas, mas que permeiam tudo desde a gênese do mundo, ao início de tudo, passando até pelo naufrágio do Titanic e temos afinal “a vida – triste e bela como enigma”

“e a terra...indo pro escuro,

sem o menor

futuro!”

 

Solha, não sei como classificar o teu livro, só sei que ele desestabiliza, deixa-nos meio tontos e embriagados das palavras. Como diz o próprio subtítulo: “Tratado Poético-Filosófico”.

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 


sexta-feira, 19 de maio de 2023

MALDITOS


 

“Que eu não me aproxime muito

do reino do sonho da morte

que eu possa vestir esses discretos disfarces

pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas

esta é a terra do morto

esta é a terra do cacto”.  T.S. ELIOT

 

      O romance “malditos” de Anderson Pires da Silva foi uma leitura que me pegou desde o início, até o fim.

      Com uma trama bem urdida, um ritmo ágil, constitui uma daquelas leituras que você não quer interromper logo, ansiando pelos seus desdobramentos. Este sem dúvida é um mérito do autor.

      Todos os personagens do romance são uns desajustados, assim como a nossa sociedade, portanto um retrato sem retoques do meio em que, infelizmente, vivemos.

      O clima de suspense perpassa toda a obra, como se fosse um roteiro.

      Há muitos diálogos no livro que vão conduzindo e desvendando a trama, num recurso bem empregado que confere agilidade ao texto.

      Aqui e ali, percebe-se que passou alguns erros de revisão, mas que não chegam a comprometer a compreensão da frase.

      O mesmo pode se dizer, talvez, de um uso meio exagerado de chavões, palavrões e estrangeirismos.

      Tendo como subtítulo “uma ficção gótica existencialista”, realmente possui pitadas do sobrenatural e de mistério que faz com que a gente simplesmente não consiga parar de ler, deixando o leitor totalmente preso.

      Enfim “malditos” é um daqueles livros que nos surpreendem e que eu recomendo aos leitores.

 


    

quarta-feira, 17 de maio de 2023

LAMENTOS


 

Jonas Pessoa, como se pode observar, escreve sobre a temática social, mas vista de dentro e não de fora como comumente é observada e descrita. O problema social geralmente é tratado em cima de dados estatísticos. Os governantes, todos eles, adoram fazer isso: apresentam cifras e números e ocultam o Ser, o lado humano do sofrer. Como aquele ditado que diz que “quem vê o doente não vê a doença da pessoa”.

Jonas Pessoa não faz isso, sua escrita espreita o lado de dentro, sob a perspectiva da doença, das chagas sociais cotidianamente pisadas por todos nós e nem sequer sujamos os sapatos das nossas consciências empedernidas, fechadas sobre si mesmas.

Pode-se argumentar que o registro meramente social e coletivo não seja matéria de poesia, mas a impressão que eu tive ao ler os originais de “Lamentos” é a de que o Jonas não está muito preocupado em fazer literatura e sim tentar desnudar a verdade escondida sob o tapete vermelho da hipocrisia.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

IMPRESSÕES SOBRE O LIVRO DO GONZALO DÁVILA BOLLIGER



Gonzalo, terminei de ler o seu livro "Rumo ao âmago da própria voz". muito interessante essa ligação com a música, o rock progressivo, principalmente. "eu passei a vida rascunhando gritos em uma sala de espelhos". legal isso. rei dos mortos e ao mesmo tempo um espantalho que se declara um artista. "o maior dos artistas" o que o leva a ser, por conseguinte, a ser o rei da tristeza. "-oh convidados, meus leitores/meus semelhantes, meus hipócritas, pupilos!!/não abandonem estes arabescos dourados,/eles irão se emaranhar como serpentes em teus crânios/e fazê-los sofrer como quem dentro-/do próprio túmulo em que houvesse nascido-/lesse o seu próprio epitáfio/. Você, Gonzalo, demonstra ter uma estupenda imaginação. neste teu livro eu observei características de Bob Dylan e Fernando Pessoa na pessoa do Álvaro de Campos, como no poema das páginas 115 e 116 - muito bom. a ressalva que eu faço é referente ao concretismo dos irmãos Campos, Augusto e Haroldo & Décio Pignatari que pretenderam decretar o fim do “ciclo histórico do verso” e, a meu ver, não obtiveram nada e isso só trunca a fluidez dos versos e da leitura.

mas a impressão geral que fica é a de um bom livro e de um bom autor. parabéns!!!


domingo, 14 de maio de 2023

FLORIR NO ESCURO


 

“aquela escuridão, que eu não me esqueça,

Era toda ela a noite mais espessa,

O mais espesso susto, o que não cessa

De espantar e arder, assombração.”

 

Lendo o livro do Chico Lopes, “Florir no Escuro” (Editora Penalux) eu percebi ou me dei conta de que eu estava no meio de uma “cantiga de ninar fantasmas”, tal as camadas de silêncio e fúria que perpassam os seus densos versos. De uma densidade memorialista. Poesia madura, de gente grande que mora na vizinha cidade de Poços de Caldas.

 

DUPLO

 

“Um demônio de ironia

Nunca me deixa, tranquilo,

Disciplinar meu fluir.

 

Sempre uma parte de mim

Ri a valer da outra parte

Que intenta me corrigir”.

 

Lá pelas tantas na leitura do livro deparo-me com o seguinte e expressivo verso: “poupa-me do açúcar do teu pus”

Destaco o poema “Horas a fio”, um dos mais fortes do livro, para uma leitura atenta e concentrada. Mas, sem dúvida, o poema que mais me impressionou é “mãe”. Contundente e belo.

E para finalizar essa leitura de um autor que eu não conhecia só posso recomendá-lo aos interessados em literatura da boa. Ficarei aguardando a leitura do “Caderno Provinciano”, cujo título já me pegou logo de cara e na essência.

 

 

 “e o relógio só dá hora

Para o mesmo velho encontro -     

O de mim com meus escombros”.   

sábado, 13 de maio de 2023

ENTREMEIOS


 

“Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta,

Mas um dia afinal eu toparei comigo...

Tenhamos paciência, andorinhas curtas,

Só o esquecimento é que condensa,

E então minha alma servirá de abrigo. ”

                        Mário de Andrade

 

Acabei de ler o romance EntreMeios, acho que por umas duas ou três vezes em uma única vez. Explico-me: foi uma leitura feita de idas e vindas. Recapitulações. Tentando lançar luzes sobre alguma passagem já anteriormente lida e não totalmente absorvida, e este foi um processo enriquecedor. Fiz com este livro uma leitura “sui generis”: antes de eu terminar eu recomeçava e lá pelas tantas iniciava tudo de novo, mas mantendo as pontas do início e do desfecho afinal cíclico.

Não quer dizer com isso que seja um livro de leitura difícil, mas requer perspicácia e a vontade de continuar lendo e continuar sorvendo tudo porque trata-se de uma prosa poética, ou melhor, verdadeira poesia em prosa – deliciosa e vermelha.

Saí deste livro de estreia com uma palavra formulada nos desvãos do meu cérebro já antigo e que ainda gosta de se expressar com palavras em desuso justamente quando requer e precisa de um termo forte para anunciar algo novo e inovador. Uma estreia deveras ALVISSAREIRA.

Há que se ressaltar neste livro, publicado pela Editora Reformatório, seu caráter bastante diferenciado e promissor, bem como enaltecer esta nova autora, Cassia Penteado, que publica seu primeiro romance e promete.

Literatura concisa, cheia de frases como laminas afiadas da faca de sashimi, “que permite um corte perfeito com um único golpe”. Lamina limpa antes de ser usada. Impressionante.

Dir-se-ia que é um romance duro, cruel, mas simultaneamente límpido e doce, como aquele personagem singelo que vai enrolando o seu cigarro de palha, nesta passagem da mais pura magia: “ele desembrulha um pedaço de tabaco torcido e enrolado em corda. Do bolso da calça fina de tergal cinza, ele traz o canivete de aço inox com detalhes em madrepérola; era ainda menino quando o herdara do avô. Com ele fere e descama o fumo que armazena na palma da mão, depois o despeja na folha de palha, enrola-a na superfície da ponta dos dedos, leva à boca aquela gaita de palha recheada de tabaco picado, lambe a borda da folha com a ponta da língua e, com a saliva, cola-a no corpo do cigarro, encerrando a obra”.

Procedimento simples e poético que contrasta com os muitos coágulos de sangue que virá antes e depois, em profusão. No cérebro emaranhado de traumas e pesadelos e culpas da personagem principal, ou seriam duas personagens mulheres? Ou apenas uma, a mesma? É preciso ler o Entremeios para saber.

Numa passagem inóspita e realista a personagem se questiona: “extirpar o útero de mulher que jamais parira? Sou chão batido em que a semente não germina, sou árvores maldita que não deu fruto, aguilhoada pela ardência da devassidão da infertilidade. O destino poupara-me a desgraça de gerar víboras, de ter, nas palmas, o enxerto fecundo de outra anomalia a perpetuar minha vileza. Jamais desejei reproduzir algo que não partisse de meu cérebro, dos meus sentidos, e a vida secou inopinadamente as minhas entranhas”.

Um romance feito de fendas e camuflagens e com a capa vermelha como glóbulos de sangue, muito sangue. Afinal havia um buril, sim um buril.

 


sexta-feira, 12 de maio de 2023

UMA PERGUNTA PARA O POETA E ESCRITOR MILTON REZENDE



P: Canal Acontece nos Livros - Whisner Fraga.

Milton, fale um pouco sobre o seu processo criativo.


Meu projeto literário, enquanto planejamento, pode-se dizer que iniciou com a publicação do meu primeiro livro O Acaso das Manhãs (1986). Comecei a escrever aos 13 anos de idade, mas eram esboços, etapas de um aprendizado. Eu enchia cadernos e mais cadernos com manuscritos e depois várias pastas datilografadas, mas aos 20 anos queimei todos eles, pois achava que já era hora de encarar a literatura mais a sério.

Entretanto, de vez em quando, retornam à minha memória alguns daqueles versos e eu sinto nostalgia daquela espontaneidade que o tempo fez questão de sepultar. Eu lia muito por esta época, mais do que eu leio atualmente e meus autores preferidos foram se consolidando até chegar a esta tríade que me acompanha até hoje: Drummond, Fernando Pessoa e Augusto dos Anjos.

Mas há outros, não menos importantes, como o Bandeira, o Graciliano Ramos, Edgar Alan Poe, H.P. Lovecraft, entre tantos.

Eu reviso muitas vezes os meus escritos, acho isso fundamental, principalmente para autores que, como eu, não submete os seus textos a ninguém antes de serem publicados. portanto eles não devem ter palavras faltando nem sobrando e esta é a minha única medida. Mas mesmo assim é preciso esperar algum tempo pela decantação do texto porque “a literatura é a emoção recolhida em tranquilidade”, no dizer do autor inglês W. Wordsworth.

E entendo a literatura como registros, retratos de si,  pistas que deixamos como pegadas na areia de uma posteridade que, provavelmente, ninguém irá notar.

Quanto a linguagem eu prefiro uma que seja enxuta, direta, sem rodeios. “sua forma de escrever é ácida, sem concessões. seus poemas são mordazes, incrivelmente corajosos. ele nunca poupa a si mesmo nem ao mundo. Milton vem da melhor tradição da poesia e prossegue com ela” (M.S).

os meus temas predominantes são a solidão, o amor e a morte. Tudo o que foi retido no território bruto e confuso da memória, reminiscências, revolta e um pouco de ternura. 

Minhas preferências são várias, mas de um modo específico, muitas delas giram em torno da morte, dos cemitérios, figuras estranhas e insólitas permeadas por um fator sobrenatural e um fator filosófico. Como de resto em toda a minha poética, esses fatores.

Em 2013 foi defendida e aprovada pela Universidade Federal de Juiz de Fora e depois, já em 2015, publicada em livro a dissertação de mestrado de Maria José Rezende Campos intitulada “Tempo de poesia: intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton Rezende”, constituindo assim na primeira publicação a tratar da fortuna crítica do autor.

Finalmente eu tenho ainda mais alguns, poucos, projetos literários na cabeça, pelo menos em esboço que espero concluir. De qualquer forma pretendo chegar a um ponto onde eu possa pelo menos suster o meu processo criativo e dar por encerrada a minha atividade literária. Talvez mais uns quatro volumes e já estará de bom tamanho. Ainda nesse ano de 2022 sairá o meu livro ANÍMICA (no prelo) e depois, quem sabe conseguir publicar a minha Antologia Poética. Feito isso ficarão faltando, eu acho, mais dois livros para encerrar. Ciao!                            

Gênese: neste texto eu digo “autores que, como eu, não submete os seus textos a ninguém antes de serem publicados.”

isso, no meu caso, é mesmo verdade, exceção feita a “Mais uma xícara de café”. A composição e a escrita deste livro foi algo sui generis que, em mim, não vai se repetir. Mesmo porque, por problemas de saúde, hoje eu já não bebo e tudo o que escrevo é “a frio”.

Escrevi  Mais uma xícara de café”, como digo no próprio decorrer do livro, basicamente sob os efeitos do álcool no organismo. Numa espécie de escrita que obedecia unicamente ao fluxo da consciência ou da sua inconsciência. Eu pretendia colocar em prática uma espécie de “escrita automática”, algo assim como abrir “As Portas Percepção”. Pois bem, fiz isso em geral no livro todo, mas é claro que no dia seguinte, sóbrio, eu relia todo o trecho e fazia meus apontamentos, correções, revisões e mesmo supressões ou alterações no texto escrito na noite anterior. Mas mantendo a sua essência, o seu fluxo e ritmo próprios.

Naturalmente, depois do original pronto, eu estava confuso e inseguro quanto ao resultado final. Se teria qualidades a ponto de eu decidir publicá-lo.

Assim sendo, pela primeira e única vez eu resolvi submetê-lo à opinião alheia na pessoa do poeta e escritor conterrâneo Marcelo Serodre, então meu amigo e a quem eu prezava sobremaneira a sua opinião literária. Não sem razão.

Então ele, após a leitura, escreveu-me um e-mail desancando o meu original, apontando-lhes inúmeros defeitos. Foi como um balde de água fria. Mas como eu respeitava seus conceitos e opiniões tive que agradecer-lhe pela leitura e os “palpites” que dera. Alguns eu achara pertinentes e outros nem tanto. Isso foi alguns anos antes de 2006/2007, quando da sua redação final e definitiva.

Coloquei os originais na gaveta para decantação e amadurecimento em mim. Lendo-o e relendo-o várias e repetidas vezes eu lhe achava qualidades apesar dos muitos defeitos. Resolvi então colocar as mãos na massa e modificar e reescrever alguns trechos ou passagens. Fiz um trabalho consciente e meticuloso e considerei-o “quase pronto” e acabado. E quando eu considero alguns dos meus livros prontos e acabados eu não mexo mais neles e essa segunda versão eu submeti à apreciação do grande poeta e tradutor Ivo Barroso, meu amigo e também conterrâneo de Ervália, Minas Gerais.

Dessa sua leitura e apreciação ainda surgiram pequenos ajustes aqui e acolá que eu fiz, mandando-o para a editora e ser, finalmente, publicado. Isso já era o ano de 2017. Portanto um longo percurso e espera que valeram a pena, pois foi muito bem recebido a ponto de o consagrado Ivo Barroso chama-lo de “livrão”. Assim o “Mais uma xícara de café” finalmente veio a lume.

www.miltoncarlosrezende.com.br