quinta-feira, 10 de agosto de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: NOTURNO
quarta-feira, 9 de agosto de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: VIGÍLIA
terça-feira, 8 de agosto de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: CACTUS
domingo, 6 de agosto de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: EXPLICAÇÃO DE UM SILÊNCIO
sábado, 5 de agosto de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: O SOL NAS VIDRAÇAS
quarta-feira, 2 de agosto de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: TRIBUTO AO AMOR QUE EVITA A MORTE VOLUNTÁRIA
segunda-feira, 31 de julho de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: OCORRÊNCIA
domingo, 30 de julho de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: A ARANHA E O SONHO
sábado, 29 de julho de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: REGRESSO
Gotas de Poesias e Outras Essências: A VERDADE SOBRE A MENTIRA
sexta-feira, 28 de julho de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: ÚLTIMA CARTA
Gotas de Poesias e Outras Essências: DE PASSAGEM
quarta-feira, 26 de julho de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: É PRECISO
Gotas de Poesias e Outras Essências: A SOLIDÃO DO POEMA
terça-feira, 25 de julho de 2023
Gotas de Poesias e Outras Essências: O CÉU DOS VELHOS
Gotas de Poesias e Outras Essências: CICLOS
segunda-feira, 24 de julho de 2023
ARMADILHAS DO TEMPO: A VERDADE SOBRE A MENTIRA
Gotas de Poesias e Outras Essências: NOVA PROFISSÃO DE FÉ
Gotas de Poesias e Outras Essências: FLASHES DO COTIDIANO
domingo, 4 de junho de 2023
NA RUA DOS IPÊS AMARELOS
quinta-feira, 1 de junho de 2023
COLETÂNEA CEMITERIAL
adquira o meu e-book "Coletânea Cemiterial", pela Kindle/Amazon por apenas 9,99.
terça-feira, 23 de maio de 2023
TEMPO DE POESIA EM ÉPOCA DE REDES SOCIAIS
Por Patrick Ariel
Adquiri
num evento de uniersidde o livro recém-lançado sobre o poeta Milton Rezende. Praticamente
passou despercebido tanto o autor quanto os seus poemas e essa dissertação resgata
esse lapso inconcebível e inicia a fortuna crítica do autor mineiro.
Trata-se
do livro “Tempo de Poesia: Intertextualidade, Heteronímia e Inventário Poético
em Milton Rezende”, da autora Maria José Rezende Campos, publicado através da
Editora Penalux (2015).
O
livro já nos pega pela capa que, segundo a autora, é a representação gráfica de
um dos poemas do Milton: Obstáculos. Na
contracapa, em meio às gotas de chuva do desenho, um comentário do consagrado
Ivo Barroso, tradutor de Hesse, Rimbaud, entre tantos outros.
As
orelhas trazem a apreciação do Prof. Luiz Fernando Medeiros de Carvalho,
orientador da autora no mestrado em letras que resultou na presente publicação.
O prefácio foi escrito por Anderson Pires da Silva e a apresentação traz a rubrica
de Nícea Helena Nogueira, ambos conceituados professores da Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Por
esse arcabouço já se pode perceber a excelência da presente e oportuna
publicação acadêmica que, no entanto, nos prende pela coloquialidade dissertativa,
tornando a leitura palatável e prazerosa desde o primeiro momento. Mérito, sem
dúvida, da Maria José que soube “penetrar com denodo e carinho, os meandros
mais intricados da obra do nosso Milton”.
O
livro em questão é dividido em quatro partes ou eixos temáticos que versam
sobre a intertextualidade, a heteronímia, o processo de criação e os espectros
do Spleen encontrados no poeta Milton
Rezende, que já possui nove livros publicados e completa agora, em 2016, trinta
anos de estrada literária desde a publicação de “O Acaso das Manhãs”.
Repassemos
então, em breves pinceladas, os capítulos ou temas estudados, pois temos a
plena certeza que nenhum comentário substituirá a completa leitura do livro:
como nos filmes em que a sinopse deve servir para aguçar ainda mais a vontade de
ver todo o filme. Eu, Patrick Ariel, poeta inédito e estreante, ficaria
satisfeito se os eventuais leitores das redes sociais (que conseguiram chegar
até aqui) me acompanhassem até o final e fossem além, adquirindo um exemplar do
livro e através da leitura e apreciação pessoal, tirassem as suas próprias
ideias e conclusões.
Já
ressentimos muito, desde algum tempo, a morte ou a mordaça das análises
críticas nos órgãos de imprensa e a ausência daqueles grandes críticos
literários que dissecavam autores e obras em grossos compêndios. Nos tempos de
colégio achávamos aquilo maçante e hoje quantos de nós não daríamos tudo para
ter de volta os antigos suplementos com seus artigos teóricos.
No
primeiro capítulo a autora faz um apanhado geral sobre a intertextualidade em
seu contexto histórico e correlaciona-a, em particular, com seu objeto de
estudo, o poeta Milton Rezende e nos poemas em que ele adota tal procedimento
que, em se tratando da poética contemporânea é bastante comum e corriqueiro, assim
como o uso das epígrafes. A meu ver essa intertextualidade no autor estudado
enriquece sobremaneira os seus escritos sob uma perspectiva dialética em
paralelo com autores como Manuel Bandeira, Augusto dos Anjos e Drummond –
verdadeiros ícones em que o poeta se espelha, reverenciando e enriquecendo com
um olhar próprio e apropriado.
No
capítulo seguinte é dada ênfase no estudo da heteronímia e, com originalidade,
a autora Maria José nos revela um completo panorama deste recurso largamente
empregado no fazer poético do Milton. Demonstra que os heterônimos deste autor
dialogam com o próprio e entre si mesmos, o que, sem dúvida, é uma
particularidade bastante interessante em se tratando do uso de heterônimos, que
teve sua expressão máxima com o grande Fernando Pessoa. Aliás, a autora traça
esse paralelo entre o poeta português e o fazer poético do Rezende, misto de
funcionário público e celebridade rural escondido no anonimato das montanhas de
Minas.
Na
sequência vem uma análise da Maria José, engenheira da palavra e autora perspicaz
que agora se depara e se debruça sobre o processo de criação do poeta mineiro, dissecando,
discernindo e exemplificando com inúmeras poesias retiradas dos livros do autor,
formando desde já uma breve antologia de poemas estudados que poderá ser usada
como base para novos estudos, dela própria ou de outros aventureiros dispostos
a levar adiante a tarefa de retirar o Milton do limbo acadêmico e levá-lo à
apreciação de mais leitores.
No
último capítulo, a autora se dedica a rastrear os indícios ou resquícios do Spleen na obra do autor, como se fossem
espectros do romantismo ainda vivos e remanescentes na contemporaneidade dos
temas abordados, tais como o subjetivismo e a morte. Para tanto faz um apanhado
global da escola romântica vigente na segunda metade do século XIX e aborda
autores como Álvares de Azevedo e sua correlação com a lírica atual e
reinventada nas temáticas predominantes do poeta Milton Rezende.
Finalmente,
para fechar o livro, há um apêndice e um anexo formado por diversas entrevistas
com o próprio poeta (concedidas em diferentes períodos e contextos) e também com
alguns escritores e poetas amigos, conterrâneos e/ou conhecedores da obra do
autor de Ervália.
Dito
isso, acho que só nos resta ler o livro da Maria José e, através dele, dar um
passo e um impulso rumo à obra poética do Milton, descobrindo e desvendando
novas sendas de fruição, percepção e compreensão da gênese literária
empreendida por este “poeta de escrita tão refinada, familiar aos leitores da
poesia moderna, mas ao mesmo tempo estranha aos leitores da atual poesia
contemporânea”.
segunda-feira, 22 de maio de 2023
Revista O Bule: 'Boi descomedido' e 'Com um berço nas costas'
QUANDO DEUS NÃO É SUFICIENTE
Prezada
Lica Campolin,
Não
farei uma resenha do seu livro porque resenhas geralmente se aplicam a livros
de literatura, ficção e o seu livro é um relato, um depoimento pessoal e
contundente sobre uma situação dolorosa que você viveu juntamente com o seu
filho Júlio que, infelizmente, veio a falecer. Mas é também uma história de
vivência e de aprendizado.
O
seu livro inicialmente me convidou à leitura devido ao título que achei
instigante. Depois reparei e gostei da capa, ainda não sabendo do que se tratava
e o que representava. Mas logo você explica que são nomes de alguns doadores de
sangue e de medula óssea que fizeram para o seu filho. Então lembrei-me das
dezoito transfusões de sangue que tiveram que fazer em mim enquanto eu estive
internado e inconsciente no c.t.i por 90 dias.
“primeiro
a gente põe o pé,
depois Deus coloca o chão”
Gostei
mais da segunda parte do livro, ou seja, suas reflexões depois da morte do
Júlio. Foi, sem dúvida, a melhor parte embora se referisse, na verdade, à pior
parte vivida por você, ou seja, a ausência do seu amado filho.
Então,
conforme seu convite na contracapa, pulemos juntos neste abismo. Só depois, bem
depois é que reparei que aqueles nomes na capa formavam um esboço do rosto do
Júlio Campolin. Na verdade, todos nós somos apenas um esboço e não passamos
disso e “Deus não é mesmo suficiente”.
Que
não se procure no seu livro muita literatura e nem foi esse o seu propósito ao
escrevê-lo. Simplesmente teve que escrever para tentar expurgar a dor. Mas há
momentos literários no livro como na página 153, um verdadeiro poema.
Vou
abrir aqui um parêntesis para explicar o que eu disse anteriormente e o faço
com o propósito de compartilhar o que vivenciamos e que, de uma certa forma, se
assemelham. Você faz explicitamente um louvor e um agradecimento à equipe
médica que cuidou do seu filho, especialmente a um médico em particular. Não
tive a mesma sorte.
Em
2016 tive que fazer uma cirurgia aparentemente simples que, por imperícia
médica, se complicou e quase perdi a vida, embora persistem e irão persistir
pelo resto dos meus dias as sequelas de um derrame cerebral que
eufemisticamente chamam de a.v.c. Prefiro a forma antiga quando se denominavam
as coisas pelo que elas realmente eram.
Enfim,
tive este episódio dentro do próprio c.t.i, num hospital em que entrei para
fazer uma simples cirurgia por vídeo e disseram-me que dentro de três dias eu
teria alta e depois de quinze dias poderia voltar ao trabalho e à vida normal. Acabei
ficando 90 dias entre a vida e a morte, em coma, e estou hoje aposentado por
invalidez permanente e irreversível.
Mas
como se diz por aí “vida que segue”. Só abri este parêntesis para dizer que eu,
estando inconsciente, minha esposa, que estava o tempo todo atuante e ativa vivenciou
mais ou menos, ou seja, de uma forma semelhante tudo que você narra em seu
livro. Com a diferença de que eu, ao contrário do seu filho, acabei pendendo
para o lado da continuidade da vida e até mesmo os próprios médicos dizem não
entender como eu pude sobreviver. Mistérios e muitos dizem que deve haver nisso
algum propósito que eu não sei qual seja e nem sequer consigo alcançar. Como no
seu livro Lica, são perguntas e perguntas e muitas questões para as quais eu
acho e acredito que nunca obteremos respostas.
Mas
afinal, apesar das dificuldades e das dores que eu sinto, ainda agradeço, pois,
o meu cognitivo não foi afetado, como comumente acontece nesses casos, e
prossigo escrevendo e publicando os meus livros até a hora fatal e derradeira.
A
página 193 do seu livro é maravilhosa e transcrevo-a aqui, desejando que sirva
sobretudo para você e para todos aqueles que sofrem. Espero e desejo
sinceramente que você possa suplantar como no capítulo final de “Quando Deus
não é suficiente”.
...ӈs
vezes, o coração rasgado pela dor, vira retalho.
recomenda-se
nesse caso,
costurá-lo
com uma linha chamada recomeço
é
o suficiente”...
(A.
Santos)
sábado, 20 de maio de 2023
VIDA ABERTA
O
COMPÊNDIO DE SOLHA
“VIDA
ABERTA”, livro recentemente lançado pela Penalux, do poeta/escritor Waldemar
José Solha. De tal modo que se alguém perguntar do que se trata o referido
livro, mostre a ele o poema do João Carlos Taveira e diga: trata-se disso!
Quatro
expressões me acorrem ao terminar de ler, pela segunda vez, o livro do Solha.
Conhecimento enciclopédico, poder de observação, erudição e imaginação
estupenda. Dir-se-ia ser um longo poema talvez um pouco hermético, mas tão bem
estruturado e ritmado que a O João Carlos Taveira sintetizou muito bem a
experiência de ler a “VIDA ABERTA” e a dificuldade em grande parte se dilui.
“da
flecha ao míssil,
tudo
segue,
difícil:
insuficiência
em
tudo”
Um
livro com um monte de referências que o enriquecem e até nos atordoam, mas, não
sei porque, me remete aos repentistas nordestinos.
“se
o que leio me bastasse
não
escreveria.
por
que o faria?”
E
logo adiante uma espécie de suma poética, escatológica ou estudo das últimas
coisas, mas que permeiam tudo desde a gênese do mundo, ao início de tudo, passando
até pelo naufrágio do Titanic e temos afinal “a vida – triste e bela como
enigma”
“e
a terra...indo pro escuro,
sem
o menor
futuro!”
Solha,
não sei como classificar o teu livro, só sei que ele desestabiliza, deixa-nos
meio tontos e embriagados das palavras. Como diz o próprio subtítulo: “Tratado
Poético-Filosófico”.
sexta-feira, 19 de maio de 2023
MALDITOS
“Que
eu não me aproxime muito
do
reino do sonho da morte
que
eu possa vestir esses discretos disfarces
pele
de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
esta
é a terra do morto
esta
é a terra do cacto”. T.S. ELIOT
O romance “malditos” de Anderson Pires da
Silva foi uma leitura que me pegou desde o início, até o fim.
Com uma trama bem urdida, um ritmo ágil,
constitui uma daquelas leituras que você não quer interromper logo, ansiando
pelos seus desdobramentos. Este sem dúvida é um mérito do autor.
Todos os personagens do romance são uns
desajustados, assim como a nossa sociedade, portanto um retrato sem retoques do
meio em que, infelizmente, vivemos.
O clima de suspense perpassa toda a obra,
como se fosse um roteiro.
Há muitos diálogos no livro que vão
conduzindo e desvendando a trama, num recurso bem empregado que confere
agilidade ao texto.
Aqui e ali, percebe-se que passou alguns
erros de revisão, mas que não chegam a comprometer a compreensão da frase.
O mesmo pode se dizer, talvez, de um uso
meio exagerado de chavões, palavrões e estrangeirismos.
Tendo como subtítulo “uma ficção gótica
existencialista”, realmente possui pitadas do sobrenatural e de mistério que
faz com que a gente simplesmente não consiga parar de ler, deixando o leitor
totalmente preso.
Enfim “malditos” é um daqueles livros que
nos surpreendem e que eu recomendo aos leitores.
quarta-feira, 17 de maio de 2023
LAMENTOS
Jonas
Pessoa, como se pode observar, escreve sobre a temática
social, mas vista de dentro e não de fora como comumente é observada e
descrita. O problema social geralmente é tratado em cima de dados estatísticos.
Os governantes, todos eles, adoram fazer isso: apresentam cifras e números e
ocultam o Ser, o lado humano do sofrer. Como aquele ditado que diz que “quem vê
o doente não vê a doença da pessoa”.
Jonas Pessoa não faz
isso, sua escrita espreita o lado de dentro, sob a perspectiva da doença, das
chagas sociais cotidianamente pisadas por todos nós e nem sequer sujamos os
sapatos das nossas consciências empedernidas, fechadas sobre si mesmas.
Pode-se argumentar que o
registro meramente social e coletivo não seja matéria de poesia, mas a
impressão que eu tive ao ler os originais de “Lamentos” é a de que o Jonas não está muito preocupado em fazer
literatura e sim tentar desnudar a verdade escondida sob o tapete vermelho da
hipocrisia.
segunda-feira, 15 de maio de 2023
IMPRESSÕES SOBRE O LIVRO DO GONZALO DÁVILA BOLLIGER
Gonzalo, terminei
de ler o seu livro "Rumo ao âmago da própria voz". muito interessante
essa ligação com a música, o rock progressivo, principalmente. "eu passei
a vida rascunhando gritos em uma sala de espelhos". legal isso. rei dos mortos
e ao mesmo tempo um espantalho que se declara um artista. "o maior dos
artistas" o que o leva a ser, por conseguinte, a ser o rei da tristeza.
"-oh convidados, meus leitores/meus semelhantes, meus hipócritas,
pupilos!!/não abandonem estes arabescos dourados,/eles irão se emaranhar como
serpentes em teus crânios/e fazê-los sofrer como quem dentro-/do próprio túmulo
em que houvesse nascido-/lesse o seu próprio epitáfio/. Você, Gonzalo,
demonstra ter uma estupenda imaginação. neste teu livro eu observei
características de Bob Dylan e Fernando Pessoa na pessoa do Álvaro de Campos,
como no poema das páginas 115 e 116 - muito bom. a ressalva que eu faço é
referente ao concretismo dos irmãos Campos, Augusto e Haroldo & Décio
Pignatari que pretenderam decretar o fim do “ciclo histórico do verso” e, a meu ver, não
obtiveram nada e isso só trunca a fluidez dos versos e da leitura.
mas a impressão
geral que fica é a de um bom livro e de um bom autor. parabéns!!!
domingo, 14 de maio de 2023
FLORIR NO ESCURO
“aquela
escuridão, que eu não me esqueça,
Era
toda ela a noite mais espessa,
O
mais espesso susto, o que não cessa
De
espantar e arder, assombração.”
Lendo
o livro do Chico Lopes, “Florir no Escuro” (Editora Penalux) eu percebi ou me
dei conta de que eu estava no meio de uma “cantiga de ninar fantasmas”, tal as
camadas de silêncio e fúria que perpassam os seus densos versos. De uma densidade
memorialista. Poesia madura, de gente grande que mora na vizinha cidade de Poços
de Caldas.
DUPLO
“Um
demônio de ironia
Nunca
me deixa, tranquilo,
Disciplinar
meu fluir.
Sempre
uma parte de mim
Ri
a valer da outra parte
Que
intenta me corrigir”.
Lá
pelas tantas na leitura do livro deparo-me com o seguinte e expressivo verso:
“poupa-me do açúcar do teu pus”
Destaco
o poema “Horas a fio”, um dos mais fortes do livro, para uma leitura atenta e
concentrada. Mas, sem dúvida, o poema que mais me impressionou é “mãe”.
Contundente e belo.
E
para finalizar essa leitura de um autor que eu não conhecia só posso
recomendá-lo aos interessados em literatura da boa. Ficarei aguardando a
leitura do “Caderno Provinciano”, cujo título já me pegou logo de cara e na
essência.
“e o relógio só dá hora
Para
o mesmo velho encontro -
O
de mim com meus escombros”.
sábado, 13 de maio de 2023
ENTREMEIOS
“Eu sou trezentos, sou trezentos e
cinquenta,
Mas um dia afinal eu toparei
comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas
curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
”
Mário de Andrade
Acabei
de ler o romance EntreMeios, acho que
por umas duas ou três vezes em uma única vez. Explico-me: foi uma leitura feita
de idas e vindas. Recapitulações. Tentando lançar luzes sobre alguma passagem
já anteriormente lida e não totalmente absorvida, e este foi um processo
enriquecedor. Fiz com este livro uma leitura “sui generis”: antes de eu
terminar eu recomeçava e lá pelas tantas iniciava tudo de novo, mas mantendo as
pontas do início e do desfecho afinal cíclico.
Não
quer dizer com isso que seja um livro de leitura difícil, mas requer
perspicácia e a vontade de continuar lendo e continuar sorvendo tudo porque trata-se
de uma prosa poética, ou melhor, verdadeira poesia em prosa – deliciosa e
vermelha.
Saí
deste livro de estreia com uma palavra formulada nos desvãos do meu cérebro já
antigo e que ainda gosta de se expressar com palavras em desuso justamente
quando requer e precisa de um termo forte para anunciar algo novo e inovador. Uma
estreia deveras ALVISSAREIRA.
Há
que se ressaltar neste livro, publicado pela Editora Reformatório, seu caráter bastante
diferenciado e promissor, bem como enaltecer esta nova autora, Cassia Penteado,
que publica seu primeiro romance e promete.
Literatura
concisa, cheia de frases como laminas afiadas da faca de sashimi, “que permite
um corte perfeito com um único golpe”. Lamina limpa antes de ser usada.
Impressionante.
Dir-se-ia
que é um romance duro, cruel, mas simultaneamente límpido e doce, como aquele
personagem singelo que vai enrolando o seu cigarro de palha, nesta passagem da mais
pura magia: “ele desembrulha um pedaço de tabaco torcido e enrolado em corda.
Do bolso da calça fina de tergal cinza, ele traz o canivete de aço inox com
detalhes em madrepérola; era ainda menino quando o herdara do avô. Com ele fere
e descama o fumo que armazena na palma da mão, depois o despeja na folha de
palha, enrola-a na superfície da ponta dos dedos, leva à boca aquela gaita de
palha recheada de tabaco picado, lambe a borda da folha com a ponta da língua
e, com a saliva, cola-a no corpo do cigarro, encerrando a obra”.
Procedimento
simples e poético que contrasta com os muitos coágulos de sangue que virá antes
e depois, em profusão. No cérebro emaranhado de traumas e pesadelos e culpas da
personagem principal, ou seriam duas personagens mulheres? Ou apenas uma, a
mesma? É preciso ler o Entremeios para saber.
Numa
passagem inóspita e realista a personagem se questiona: “extirpar o útero de
mulher que jamais parira? Sou chão batido em que a semente não germina, sou
árvores maldita que não deu fruto, aguilhoada pela ardência da devassidão da
infertilidade. O destino poupara-me a desgraça de gerar víboras, de ter, nas
palmas, o enxerto fecundo de outra anomalia a perpetuar minha vileza. Jamais
desejei reproduzir algo que não partisse de meu cérebro, dos meus sentidos, e a
vida secou inopinadamente as minhas entranhas”.
Um
romance feito de fendas e camuflagens e com a capa vermelha como glóbulos de
sangue, muito sangue. Afinal havia um buril, sim um buril.
sexta-feira, 12 de maio de 2023
UMA PERGUNTA PARA O POETA E ESCRITOR MILTON REZENDE
P:
Canal Acontece nos Livros - Whisner Fraga.
Milton,
fale um pouco sobre o seu processo criativo.
Meu projeto literário, enquanto planejamento, pode-se dizer que iniciou com a
publicação do meu primeiro livro O Acaso das Manhãs (1986). Comecei a
escrever aos 13 anos de idade, mas eram esboços, etapas de um aprendizado. Eu
enchia cadernos e mais cadernos com manuscritos e depois várias pastas
datilografadas, mas aos 20 anos queimei todos eles, pois achava que já era hora
de encarar a literatura mais a sério.
Entretanto,
de vez em quando, retornam à minha memória alguns daqueles versos e eu sinto
nostalgia daquela espontaneidade que o tempo fez questão de sepultar. Eu lia
muito por esta época, mais do que eu leio atualmente e meus autores preferidos
foram se consolidando até chegar a esta tríade que me acompanha até hoje:
Drummond, Fernando Pessoa e Augusto dos Anjos.
Mas
há outros, não menos importantes, como o Bandeira, o Graciliano Ramos, Edgar
Alan Poe, H.P. Lovecraft, entre tantos.
Eu
reviso muitas vezes os meus escritos, acho isso fundamental, principalmente
para autores que, como eu, não submete os seus textos a
ninguém antes de serem publicados. portanto eles não devem ter palavras
faltando nem sobrando e esta é a minha única medida. Mas mesmo assim é preciso
esperar algum tempo pela decantação do texto porque “a literatura é a emoção
recolhida em tranquilidade”, no dizer do autor inglês W. Wordsworth.
E
entendo a literatura como registros, retratos de si, pistas que deixamos como pegadas na areia de
uma posteridade que, provavelmente, ninguém irá notar.
Quanto
a linguagem eu prefiro uma que seja enxuta, direta, sem rodeios. “sua forma de escrever é ácida, sem
concessões. seus poemas são mordazes, incrivelmente corajosos. ele nunca poupa
a si mesmo nem ao mundo. Milton vem da melhor tradição da poesia e prossegue
com ela” (M.S).
os
meus temas predominantes são a solidão, o amor e a morte. Tudo o que foi retido
no território bruto e confuso da memória, reminiscências, revolta e um pouco de
ternura.
Minhas
preferências são várias, mas de um modo específico, muitas delas giram em torno
da morte, dos cemitérios, figuras estranhas e insólitas permeadas por um fator
sobrenatural e um fator filosófico. Como de resto em toda a minha poética,
esses fatores.
Em
2013 foi defendida e aprovada pela Universidade Federal de Juiz de Fora e
depois, já em 2015, publicada em livro a dissertação de mestrado de Maria José
Rezende Campos intitulada “Tempo de poesia: intertextualidade, heteronímia e
inventário poético em Milton Rezende”, constituindo assim na primeira
publicação a tratar da fortuna crítica do autor.
Finalmente
eu tenho ainda mais alguns, poucos, projetos literários na cabeça, pelo menos
em esboço que espero concluir. De qualquer forma pretendo chegar a um ponto
onde eu possa pelo menos suster o meu processo criativo e dar por encerrada a
minha atividade literária. Talvez mais uns quatro volumes e já estará de bom
tamanho. Ainda nesse ano de 2022 sairá o meu livro ANÍMICA (no prelo) e
depois, quem sabe conseguir publicar a minha Antologia Poética. Feito
isso ficarão faltando, eu acho, mais dois livros para encerrar. Ciao!
Gênese:
neste texto eu digo “autores que, como eu, não submete os seus
textos a ninguém antes de serem publicados.”
isso,
no meu caso, é mesmo verdade, exceção feita a “Mais uma xícara de café”.
A composição e a escrita deste livro foi algo sui generis que, em mim, não vai
se repetir. Mesmo porque, por problemas de saúde, hoje eu já não bebo e tudo o
que escrevo é “a frio”.
Escrevi “Mais uma xícara de café”, como digo
no próprio decorrer do livro, basicamente sob os efeitos do álcool no
organismo. Numa espécie de escrita que obedecia unicamente ao fluxo da
consciência ou da sua inconsciência. Eu pretendia colocar em prática uma
espécie de “escrita automática”, algo assim como abrir “As Portas Percepção”. Pois
bem, fiz isso em geral no livro todo, mas é claro que no dia seguinte, sóbrio,
eu relia todo o trecho e fazia meus apontamentos, correções, revisões e mesmo
supressões ou alterações no texto escrito na noite anterior. Mas mantendo a sua
essência, o seu fluxo e ritmo próprios.
Naturalmente,
depois do original pronto, eu estava confuso e inseguro quanto ao resultado
final. Se teria qualidades a ponto de eu decidir publicá-lo.
Assim
sendo, pela primeira e única vez eu resolvi submetê-lo à opinião alheia na
pessoa do poeta e escritor conterrâneo Marcelo Serodre, então meu amigo e a
quem eu prezava sobremaneira a sua opinião literária. Não sem razão.
Então
ele, após a leitura, escreveu-me um e-mail desancando o meu original,
apontando-lhes inúmeros defeitos. Foi como um balde de água fria. Mas como eu
respeitava seus conceitos e opiniões tive que agradecer-lhe pela leitura e os
“palpites” que dera. Alguns eu achara pertinentes e outros nem tanto. Isso foi alguns
anos antes de 2006/2007, quando da sua redação final e definitiva.
Coloquei
os originais na gaveta para decantação e amadurecimento em mim. Lendo-o e
relendo-o várias e repetidas vezes eu lhe achava qualidades apesar dos muitos
defeitos. Resolvi então colocar as mãos na massa e modificar e reescrever
alguns trechos ou passagens. Fiz um trabalho consciente e meticuloso e
considerei-o “quase pronto” e acabado. E quando eu considero alguns dos meus
livros prontos e acabados eu não mexo mais neles e essa segunda versão eu
submeti à apreciação do grande poeta e tradutor Ivo Barroso, meu amigo e também
conterrâneo de Ervália, Minas Gerais.
Dessa
sua leitura e apreciação ainda surgiram pequenos ajustes aqui e acolá que eu
fiz, mandando-o para a editora e ser, finalmente, publicado. Isso já era o ano
de 2017. Portanto um longo percurso e espera que valeram a pena, pois foi muito
bem recebido a ponto de o consagrado Ivo Barroso chama-lo de “livrão”. Assim o “Mais
uma xícara de café” finalmente veio a lume.
www.miltoncarlosrezende.com.br