sexta-feira, 24 de setembro de 2021

ANDARILHO


 

Por Milton Rezende

 

O vento sopra um frio doido e esquisito

na curva da esquina de um terreno baldio.

Estou entre sapos e grilos e entulhos de lixo,

atrás de um muro quebrado e com muitos cacos

de vidro onde me escondo dos meus inimigos.

Apaguei todas as luzes da esperança

e estou sendo mordido por cachorros de rua.

“Atualmente eu vivo rodeado por minhas

paixões defuntas”. Todas inclusive,

menos uma delas: a paixão do absoluto.

Ando sozinho pelas ruas de bairros e ouço:

(você quer pegar os balões? Coitado, mas

eles são feitos de sonhos que estão muito

acima da sua compleição). Talvez nunca,

quem sabe, mas eu acabei de comer agora

uma casca de pão e um pedaço de linguiça

como tira-gosto da pinga. Houve uma época

distante em que eu comia arroz e tomate

nos degraus da escada de uma igreja no alto.

A vida estava lá embaixo, mas havia pessoas comigo.

Hoje eu quero morrer sem contar pra ninguém que eu fiz isso.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário