Por Milton Rezende
O vento sopra um frio doido e
esquisito
na curva da esquina de um terreno
baldio.
Estou entre sapos e grilos e entulhos
de lixo,
atrás de um muro quebrado e com
muitos cacos
de vidro onde me escondo dos
meus inimigos.
Apaguei todas as luzes da esperança
e estou sendo mordido por
cachorros de rua.
“Atualmente eu vivo rodeado por
minhas
paixões defuntas”. Todas
inclusive,
menos uma delas: a paixão do absoluto.
Ando sozinho pelas ruas de
bairros e ouço:
(você quer pegar os balões? Coitado,
mas
eles são feitos de sonhos que
estão muito
acima da sua compleição). Talvez
nunca,
quem sabe, mas eu acabei de
comer agora
uma casca de pão e um pedaço de
linguiça
como tira-gosto da pinga. Houve
uma época
distante em que eu comia arroz e
tomate
nos degraus da escada de uma
igreja no alto.
A vida estava lá embaixo, mas
havia pessoas comigo.
Hoje eu quero morrer sem contar
pra ninguém que eu fiz isso.
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