quarta-feira, 29 de setembro de 2021

ALGUNS HOMENS


   Por Milton Rezende


 Aqueles que esperam

que todos durmam

para então se revelarem

no escuro do mundo

agora despovoado

de leis e de homens

que foram fatigados

pela batalha diária

de se ganhar dinheiro

e etcetera e coisa.

Aqueles que se recolhem

quando todos já acordados

recomeçam o ciclo da vida

subitamente interrompido

para o ensaio da morte

e que assim em movimento

não percebem os sonhos

espalhados na noite

por gente incógnita

que digere o mundo

para o sustento possível

de uma impossível unidade

comum a todos os homens.

Aqueles para quem só é viável

o diálogo com os mortos

cuja imobilidade revela a calma

do que antes fora ânsia

ou simples impulso de debate

contra uma série de coisas

que só se percebe neutras

depois que se morre.

Aqueles seres anônimos

que constroem uma realidade

paralela à admissível pelo dia

e que não obstante

substitui o espaço de tempo

necessário ao aprimoramento dos homens

até que se consiga

a hipotética convergência da raça

afinal reconciliados em espécie e sub.

Aqueles que com seus hábitos

são uma curiosidade para todos do circo

e um enigma para si mesmos, palhaços

sem plateia e sem palco nesta vida.

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