segunda-feira, 27 de setembro de 2021

A VOZ DO SILÊNCIO


Por Milton Rezende


Estou acordado

e não sonho,

mas a realidade

antecipada

me envolve.

 

A barba se me

desprende do rosto

fio-a-fio num frio

maior onde estou

me enregelando.

 

Tudo se dissolve

na aparência de ossos

de que fui formado,

e que é minha forma

mais resistente no mundo.

 

Mas a terra

(com seus vermes)

decompõe ao seu contato

todo o meu aprendizado

doloroso da vida.

 

E uma cova me absorvendo

transforma tudo o que fui

num triste resumo de pó

que um dia se chamou homem.

 

E que lhe deram um nome

(que tive), mas que a terra

aterra no tempo o traço

nominal dessa efemeridade.

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