Por Milton Rezende
Estou acordado
e não sonho,
mas a realidade
antecipada
me envolve.
A barba se me
desprende do rosto
fio-a-fio num frio
maior onde estou
me enregelando.
Tudo se dissolve
na aparência de ossos
de que fui formado,
e que é minha forma
mais resistente no mundo.
Mas a terra
(com seus vermes)
decompõe ao seu contato
todo o meu aprendizado
doloroso da vida.
E uma cova me absorvendo
transforma tudo o que fui
num triste resumo de pó
que um dia se chamou homem.
E que lhe deram um nome
(que tive), mas que a terra
aterra no tempo o traço
nominal dessa efemeridade.
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