ESPERO
POSTAR TODOS OS DIAS, NESTE GRUPO E NO MEU BLOG, ALGUMAS HOMENAGENS E
DIVULGAÇÃO DE LIVROS DE AUTORES E AUTORAS DO MEU CONHECIMENTO, ALÉM DOS MEUS
PRÓPRIOS, COM PEQUENAS SINOPSES DE LIVROS, POEMAS, FOTOGRAFIAS E
MINIBIOGRAFIAS.
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TEMPO DE POESIA EM ÉPOCA DE REDES
SOCIAIS
Por
Patrick Ariel
Adquiri num evento de universidade o livro
recém-lançado sobre o poeta Milton Rezende. Praticamente passou despercebido
tanto o autor quanto os seus poemas e esta dissertação resgata esse lapso
inconcebível e inicia a fortuna crítica do autor mineiro.
Trata-se do livro “Tempo de Poesia:
Intertextualidade, Heteronímia e Inventário Poético em Milton Rezende”, da
autora Maria José Rezende Campos, publicado através da Editora Penalux.
O livro já nos pega pela capa que, segundo
a autora, é a representação gráfica de um dos poemas do Milton: Obstáculos. Na contracapa, em meio às
gotas de chuva do desenho, um comentário do consagrado Ivo Barroso, tradutor de
Hesse, Rimbaud, entre tantos outros.
As orelhas trazem a apreciação do Prof.
Luiz Fernando Medeiros de Carvalho, orientador da autora no mestrado em letras
que resultou na presente publicação. O prefácio foi escrito por Anderson Pires
da Silva e a apresentação traz a rubrica de Nícea Helena Nogueira, ambos
conceituados professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Por esse arcabouço já se pode perceber a
excelência da presente e oportuna publicação acadêmica que, no entanto, nos
prende pela coloquialidade dissertativa, tornando a leitura palatável e prazerosa
desde o primeiro momento. Mérito, sem dúvida, da Maria José que soube “penetrar
com denodo e carinho, os meandros mais intricados da obra do nosso Milton”.
O livro em questão é dividido em quatro
partes ou eixos temáticos que versam sobre a intertextualidade, a heteronímia,
o processo de criação e os espectros do Spleen
encontrados no poeta Milton Rezende, que já possui nove livros publicados e
completa agora, em 2016, trinta anos de estrada literária desde a publicação de
“O Acaso das Manhãs”.
Repassemos então, em breves pinceladas, os
capítulos ou temas estudados, pois temos a plena certeza que nenhum comentário
substituirá a completa leitura do livro: como nos filmes em que a sinopse deve
servir para aguçar ainda mais a vontade de ver todo o filme. Eu, Patrick Ariel,
poeta inédito e estreante, ficaria satisfeito se os eventuais leitores das
redes sociais (que conseguiram chegar até aqui) me acompanhassem até o final e
fossem além, adquirindo um exemplar do livro e através da leitura e apreciação
pessoal, tirassem as suas próprias ideias e conclusões.
Já ressentimos muito, desde algum tempo, a
morte ou a mordaça das análises críticas nos órgãos de imprensa e a ausência
daqueles grandes críticos literários que dissecavam autores e obras em grossos
compêndios. Nos tempos de colégio achávamos aquilo maçante e hoje quantos de
nós não daríamos tudo para ter de volta os antigos suplementos com seus artigos
teóricos.
No primeiro capítulo a autora faz um
apanhado geral sobre a intertextualidade em seu contexto histórico e
correlaciona-a, em particular, com seu objeto de estudo, o poeta Milton Rezende
e nos poemas em que ele adota tal procedimento que, em se tratando da poética
contemporânea é bastante comum e corriqueiro, assim como o uso das epígrafes. A
meu ver essa intertextualidade no autor estudado enriquece sobremaneira os seus
escritos sob uma perspectiva dialética em paralelo com autores como Manuel
Bandeira, Augusto dos Anjos e Drummond – verdadeiros ícones em que o poeta se
espelha, reverenciando e enriquecendo com um olhar próprio e apropriado.
No capítulo seguinte é dada ênfase no
estudo da heteronímia e, com originalidade, a autora Maria José nos revela um
completo panorama deste recurso largamente empregado no fazer poético do
Milton. Demonstra que os heterônimos deste autor dialogam com o próprio e entre
si mesmos, o que, sem dúvida, é uma particularidade bastante interessante em se
tratando do uso de heterônimos, que teve sua expressão máxima com o grande
Fernando Pessoa. Aliás, a autora traça esse paralelo entre o poeta português e
o fazer poético do Rezende, misto de funcionário público e celebridade rural
escondido no anonimato das montanhas de Minas.
Na sequência vem uma análise da Maria
José, engenheira da palavra e autora perspicaz que agora se depara e se debruça
sobre o processo de criação do poeta mineiro, dissecando, discernindo e
exemplificando com inúmeras poesias retiradas dos livros do autor, formando
desde já uma breve antologia de poemas estudados que poderá ser usada como base
para novos estudos, dela própria ou de outros aventureiros dispostos a levar
adiante a tarefa de retirar o Milton do limbo acadêmico e levá-lo à apreciação
de mais leitores.
No último capítulo, a autora se dedica a
rastrear os indícios ou resquícios do Spleen
na obra do autor, como se fossem espectros do romantismo ainda vivos e
remanescentes na contemporaneidade dos temas abordados, tais como o
subjetivismo e a morte. Para tanto faz um apanhado global da escola romântica
vigente na segunda metade do século XIX e aborda autores como Álvares de
Azevedo e sua correlação com a lírica atual e reinventada nas temáticas
predominantes do poeta Milton Rezende.
Finalmente, para fechar o livro, há um
apêndice e um anexo formado por diversas entrevistas com o próprio poeta (concedidas
em diferentes períodos e contextos) e também com alguns escritores e poetas
amigos, conterrâneos e/ou conhecedores da obra do autor de Ervália.
Dito isso, acho que só nos resta ler o
livro da Maria José e, através dele, dar um passo e um impulso rumo à obra
poética do Milton, descobrindo e desvendando novas sendas de fruição, percepção
e compreensão da gênese literária empreendida por este “poeta de escrita tão
refinada, familiar aos leitores da poesia moderna, mas ao mesmo tempo estranha
aos leitores da atual poesia contemporânea”.
BIOGRAFIA
Os projetos da
engenheira Maria José saltaram da prancheta para a estante de livros, numa
arquitetura de palavras e conceitos literários para analisar a obra do escritor
mineiro Milton Rezende.
De suas muitas
leituras, feitas sobretudo na adolescência, ficaram as sementes (latentes) que
lhe proporcionaram a conclusão de sua abrangente dissertação de mestrado, que
agora se publica em formato de livro pela Editora Penalux.
Antes ela já havia
ensaiado alguns passos nessa seara deserta e maravilhosa que é a literatura,
produzindo e revisando versões dos seguintes livros do autor em questão:
- Inventário de Sombras, Juiz de Fora (MG),
1997;
- De São Sebastião dos Aflitos a Ervália –
Uma Introdução, Juiz de Fora (MG), 2006;
- A Magia e a Arte dos Cemitérios, Varginha
(MG), 2009.
Depois
disso vieram as publicações de artigos em periódicos e capítulos em livros
coletivos, tais como:
- Análise da intertextualidade no poema “É
ela! É ela! É ela! É ela!" de Álvares de Azevedo, Santos Dumont (MG),
2012;
- A heteronímia em Milton Rezende, E-book,
2012;
- Análise da intertextualidade nos poemas
do autor contemporâneo Milton Rezende, Juiz de Fora (MG), 2012.
Nascida em
Ervália (MG), em janeiro de 1961, Maria José Rezende Campos obteve graduação em
Engenharia Civil pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF, 1985),
exercendo até hoje as funções de funcionária pública dessa instituição de
ensino superior.
Em
2013 concluiu seu Mestrado em Letras, através do Centro de Ensino Superior de
Juiz de Fora (CES/JF), sob o título: Tempo de Poesia: Intertextualidade,
heteronímia e inventário poético em Milton Rezende, tendo como orientador o
Prof. Dr. Luiz Fernando Medeiros de Carvalho, na linha de pesquisa: Literatura
de Minas – o regional e o universal.
Incansável
em suas pesquisas e incursões literárias participa ativamente do movimento
cultural que se opera na cidade de Juiz de Fora, onde reside. O doutorado
parece ser o seu próximo e inevitável passo.
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