domingo, 21 de julho de 2024

RETORNO AO FINAL


“ meu Deus, porque me abandonaste?

se sabias que eu não era Deus,

se sabias que eu era fraco”

Drummond

 

protagonista

de minha vida pregressa

hoje sou coadjuvante

de ruinas.

 

nas águas do rio

fiz algumas tentativas

mas acabei afogando

na correnteza.

 

mudei de fase:

virei pescador

de sonhos frustrados

à beira dos barrancos.

 

galopei como quem

sonha por estradas

poeirentas de Minas

Gerais, sozinho.


empinei pipas e

papagaios em céus

nevoentos de minha

infância distante.

 

virei (ou tentei virar)

compositor de vanguarda

e fiz parcerias utópicas

com célebres defuntos.

 

amante de belezas glaciais

as mulheres passaram

por minha vida como

barcos à vela naufragados.

 

fui poeta das condolências

em velórios de interior

quando o defunto era

o que menos importava.

 

Candidatei-me a representante

do povo, mas não tinha

propostas viáveis no bolso

da algibeira rota e furada.


 

 

 

 

 

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