terça-feira, 6 de agosto de 2024

SERRA DA SAUDADE



Uma vez eu sonhei que estaria

longe daquilo que fiz da minha vida,

numa cidadezinha menor que o meu ego

que eu queria ver reduzido a cinzas.

 

Procurei no mapa do tempo estatístico

e encontrei a descrição da Serra da Saudade

onde eu deveria habitar se fosse possível

alguém se libertar do passado marcado.

 

Numa manhã de domingo eu peguei

minha sacola de utensílios mínimos

e parti sozinho levando o meu pássaro

de estimação numa gaiola de algodão.

 

Percorri estradas e buracos sem bússolas

como um andarilho que escapou de dentro

de casa e agora anseia por um lar sem lugar

andando em círculos concêntricos sem saídas.

 

Acordei do sonho e estava com a cara amarrada

e os pés sangrando de escalar montanhas de vidros

ocultos nas cortinas da janela que dava para o bar

onde se lia na tabuleta de madeira: mije no lugar.

 


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