Na umidade das
pedras
que configuram o
fim da rua,
eu deixo a
cidade com suas luzes
e embrenho-me no
seu depósito de restos
batido pelo
silêncio e o desdém dos vivos.
Atravesso com
passos rápidos
os últimos vestígios
onde se respira
e concentra a
massa indistinta de seres
que comem carne
e habitam em casas para
gerar filhos que
conferem um breve hiato
ao fim da
espécie que apodrece sob o barro.
Minhas botas
estalam nas pedras
como o casco de
um animal inútil,
e os últimos
postes de luz elétrica
escarnecem o meu
propósito de deixá-los
para além de sua
tarefa de apaziguar
os homens em seu
conforto precário.
Olho para os
lados para certificar-me
de que estou
sozinho e então salto sobre
o muro de grades
onde repousam os homens
que também
comiam carne e geravam os filhos
de uma espécie
da qual já não fazem parte.
Aqui foram
deixados todos aqueles
que um dia não
comeram carne e se tornaram inúteis.
E estão
esquecidos aqui aonde venho encontrá-los
com seus
semblantes de velhos idiotas que acreditavam.
Percorro os
túmulos que abrigam os mortos
e me detenho nos
epitáfios deixados
por parentes que
na cidade desprezam estes restos
só pela
lembrança de um dia já os terem beijado
na volúpia da
carne que agora fede.
Antes de deixar
o cemitério
e os despojos de
carne mal digerida
desses cadáveres
abandonados,
eu toco com
minhas mãos sem luvas
a massa
liquefeita de seus corpos.
Depois volto
para a cidade
e acaricio os
rostos dos filhos
com o excremento
fétido de seus pais,
para que eles
ainda sem sintam membros
de uma mesma
adorável família putrefeita.
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