Não tenho que
estar aqui
ou em qualquer parte.
Não tenho porque
sentir
desta ou de
outra forma
aquilo que não
sinto em mim.
Nada justifica
ou nega
a minha
existência,
mas reforça a
tese
da inércia como
norma.
Mas se estou
inerte
a minha inércia
é uma postura.
É um estar aqui.
O que sou é este
vazio em mim.
Este ímpeto não
direcionado
a pulsar num
imenso vácuo.
Um deserto
interior a buscar água
num deserto
exterior projetado.
Sou esta ânsia e
esta calma.
Sou uma coisa e
outra e não sou nada.
Sei que existo e
saber isso não me ajuda
(a consciência
que tenho de estar acordado
é a certeza que
tenho de não estar dormindo).
Sei que posso
mudar alguma coisa,
uma vez que
tenho espaço físico
para agir como
se fosse livre.
Mas nada do que
eu fizesse teria significado.
Seria um trocar
de camisa
depois de um
suposto banho.
Seria como
atravessar a rua
trazendo a outra
margem dela até mim.
Serei sempre eu
mesmo e na pior circunstância
de nada ter
mudado em essência.
Sou isto:
Um porão vazio
abarrotado de quinquilharias.
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