quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

BALADA DOS NADADORES


 

O que havia era o mar

e a necessidade de atravessá-lo.

 

Sentar-se à sua margem

seria atravessá-lo em sonhos

e evitar o confronto de suas águas.

 

Mas o confronto dos sonhos

com a realidade fora da cama,

não precisa vir sob as vestes

profundas dos oceanos.

 

Um cadarço de sapato

demonstra isso e dispensa

os grandes cenários

que revestem o fracasso.

 

Lançar-se então despojado

das vestes que já não tínhamos,

seria entregar-se com ingênua esperança

à indiferença das ondas.

 

Mas o naufrágio do ímpeto

não é devido somente

à insipidez do externo,

é antes uma interiorização

do medo que flutua sobre as águas.

 

Melhor seria pois atravessá-lo

em silêncio de homem que tece

a esperança de um barco com os escassos

recursos encontrados no vazio das noites.

 

Então o homem senta-se à margem do mar

e deposita o seu barco de fibra de sonho.

Com derradeiro espírito de luta avalia

o embate doloroso com as ondas. São mínimas

as probabilidades de êxito, ele sabe.

 

Mas como havia a necessidade,

o homem se joga na correnteza

e aceita lutando os golpes previstos.

Resistiu como um inseto no copo e o seu

corpo depois foi encontrado na praia, boiando.

 


 

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