OCASO
o caos não chegou por
acaso.
ROTINA
A gente se acostuma
contudo
não deveria.
ARCANO
Mergulho nas águas profundas e turvas
sem me molhar
Submerso em meus temores e pesadelos, não expiro o
ar de meus pulmões prestes a explodir
Não há peixes, cavalos marinhos ou
algas
Não há carcaças de navios piratas naufragados
Não há sequer tubarões famintos ou polvos abobalhados
Há apenas trevas teimando em ser cada vez mais trevas
O sol e o céu azul, a lua e as estrelas
os sons, as vozes, as canções – Onde estão?
Sou carreado por correntes marinhas
que, por sua vez,
não me levam a lugar algum, embora me arrastem
Tento me recordar do que deixei alhures, mas tudo
se esvaiu como a fumaça de meu último
cigarro
e o gole de minha derradeira aguardente. Não amei
mulher alguma a ponto de sentir saudade, apenas tesão
Minha tentativa de pronunciar algo
nesse momento solene se torna
borbulhas de ar, o que é muito mais do que as anteriores, cujas
palavras se perdiam no vazio, invisíveis, inaudíveis, ininteligíveis
As vozes que já ouvi tentam em vão me
dizer algo, mas nada
remanesceu de tudo o que escutei e tampouco de tudo o que falei
Devo estar chorando, mas como saber, submerso e impermeável?
Indefeso e indeciso, rompo em
braçadas e pernadas rumo a
um lugar que cintila ante meu olhar de louco, ou de peixe
morto... e meus pulmões prestes a explodir.
O AUTOR:
Edson Braz nasceu em Juiz
de Fora/MG, em 22/10/1957. Cursou, sem concluir, Letras e Psicologia. Publicou
trabalhos em jornais alternativos e antologias, destacando Banco de
Talentos-2001 (FEBRABAN) e Poesia em Movimento-2002 (FUNALFA). Publicou
POEMA(S) EM VÃO, Ed. Scortecci, em 1989, o livro de contos O TOMBO E OUTROS
ACIDENTES (Editora Penalux), em 2013, e o romance QUEDA LIVRE (Big Time
Editora), em 2016. Tem um romance e uma coletânea de textos em fase de
conclusão, além de poesias “engavetadas”, como se dizia noutros tempos,
projetos que pretende concluir até o próximo lockdown. Faleceu dia 13/12/2020,
por covid19.
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