Suspenso na tarde
como uma lâmpada queimada
num porão deserto,
figura o lado esquerdo
de um parêntesis aberto.
Seu estado resulta
do itinerário de sombras
em que um homem se perde
na solidão de seus próprios passos,
esquecidos sequer sem deixar uma marca.
Sua abertura demonstra
a imperiosidade do erro
que determina sempre
que as flores se abram para cumprir
seu papel de beleza e de decomposição.
O parêntesis aberto no escuro
não é senão a necessidade
de se sair do estágio de clausura,
quando se esgota (ou assim se imagina)
a fonte de oxigênio íntimo do ser.
Mesmo quando já se sabe
que na asfixia de ele estar fechado
sobrevive pelo menos a sua integridade,
e abri-lo significa a dispersão da energia
que ele guarda de si para si como um transistor.
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