domingo, 17 de novembro de 2024

DA ESSENCIALIDADE DA ÁGUA

 



Trata-se do primeiro original poético do escritor e poeta Milton Rezende nos últimos sete anos, desde a publicação de “Um Andarilho Dentro de Casa”, em 2017. Depois disso aconteceram mais quatro livros publicados, sendo que o primeiro deles foi o romance “Mais uma Xícara de Café – One More Cup of Coffee” (2017), seguido de uma compilação de textos e poemas derivados de sua fortuna crítica: “Tempo de Poesia: Intertextualidade, Heteronímia e Inventário Poético em Milton Rezende”(2015), de Maria José Rezende Campos e que foi publicado em 2019 sob o título de “A Casa Improvisada”, outro foi uma seleção de poemas e textos contemplados, viabilizados e publicados através da Lei Aldir Blanc “Anímica” (2022), em seguida a sua “Antologia Poética – Literária I” (2022), que foi publicada no Brasil, Portugal, Angola e Cabo Verde. Publica o “Da Essencialidade da Água” (2024).


quarta-feira, 13 de novembro de 2024

DA ESSENCIALIDADE DA ÁGUA

 adquira seu exemplar e prestigie a literatura brasileira contemporânea.

@EditoraSinete

Milton Rezende, escreve em prosa e poesia e conta com quatorze livros publicados. Suas obras têm sido publicadas em diversos blogs, revistas, jornais e sites de literatura no Brasil e alguns no exterior.

Em Da essencialidade da água, o poeta lida com a morte, abordando inquietações provocadas pela contemplação da finitude, em todas as suas camadas, até chegar ao desfecho inegociável. Paradoxalmente, a vida transborda em todos os versos e se fortalece na contemplação das dificuldades provocadas por limitações físicas.

Sobre o autor, Edson Braz da Silva diz: “Grande poeta, de obra densa, intrigante, que não permite a indiferença ou muxoxo quando é lida. Poeta definitivo, que diz o que quer dizer, sem reticências, sem rodeios, porém sem desperdiçar palavras, sem jogar ao ar blasfêmias estéreis, sem pirotecnia. Às vezes é seco como Drummond, tétrico como Edgar Alan Poe, mortal como Augusto dos Anjos, sensitivo como Fernando Pessoa, mas é sempre Milton Rezende.”

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

DA ESSENCIALIDADE DA ÁGUA






 décimo quinto livro do autor Milton Rezende. 

Carla Dias apresenta este recente lançamento da Editora Sinete. adquira seu exemplar e fomente a literatura brasileira contemporânea.

https://www.sineteeditora.com.br/da-essencialidade-da-agua

sábado, 9 de novembro de 2024

A QUEDA


 

Não digo que estou

no fundo do poço

porque este não é mensurável

e sempre se pode cair mais ainda.

Mas estou numa queda livre

e vertiginosa.

A roupa do passado não me serve,

o presente é roto

e estou sem vestes para o futuro.

E numa queda os laços vão-se rompendo,

se dissolvendo,

desagregando-se.

Nenhum laço segura um homem

que cai por muito tempo.

A dignidade é uma palavra para pessoas de pé.

Na horizontal os conceitos são outros.

 



sexta-feira, 8 de novembro de 2024

DIAS DE CHUMBO




DIAS DE CHUMBO

“escurece e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada”
Drummond
Minha vontade é me dissolver
destruir minha personalidade.
Se houvesse algum ácido ou sal
que eu pudesse ingerir
e que me libertasse,
não do outro que há em mim
(monstro de ternura e culpa e parte
diferente, ainda que irrisória,
do meu processo de embrutecimento).
Mas que me livrasse de mim mesmo,
da vida que tenho levado até aqui,
aniquilando enfim essa coisa amorfa
que não se sustenta nem se suporta e que
no entanto teme a morte ou o esgotamento
da provisão do seu elemento de fuga.

A Sentinela em Fuga e Outras Ausências, Editora Multifoco, 2011

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

CASA - edição bilíngue


 

Casa [Carlos Drummond de Andrade]


Há de dar para a Câmara,
de poder a poder.
No flanco, a Matriz,
de poder a poder.
Ter vista para a serra,
de poder a poder.
Sacadas e sacadas
comandando a paisagem.
Há de ter dez quartos
de portas sempre abertas
ao olho e pisar do chefe.
Areia fina lavada
na sala de visitas.
Alcova no fundo
sufocando o segredo
de cartas e baús
enferrujados.
Terá um pátio
quase espanhol vazio
pedrento
fotografando o silêncio
do sol sobre a laje,
da família sobre o tempo.
Forno estufado
fogão de muita fumaça
e renda de picumã nos barrotes.
Galinheiro cumprido
À sombra de muro úmido.
Quintal erguido
em rampa suave, flores
convertidas em hortaliça
e chão ofertado ao corpo
que adore conviver
com formigas, desenterrar minhocas,
ler revista e nuvem.
Quintal terminando
em pasto infinito
onde um cavalo espere
o dia seguinte
e o bambual receba
telex do vento.
Há de ter tudo isso
mais o quarto de lenha
mais o quarto de arreios
mais a estrebaria
para o chefe apear e montar
na maior comodidade.
Há de ser por fora azul 1911.
Do contrário não é casa.

[Boitempo I]

 Carlos Drummond de Andrade

 

CASA

(traducción del portugués por Benjamín Valdivia)

 

Ha de dar hacia la Cámara,

de poder a poder.

En el flanco la iglesia mayor,

de poder a poder.

Tener vista a la sierra,

de poder a poder

Balcones y balcones

gobernando el paisaje.

Ha de tener diez habitaciones

de puertas siempre abiertas

a la mirada y al pasar del amo.

Arena fina lavada

en la sala de visitas.

La alcoba en el fondo

sofocando secretos

de cartas y baúles

herrumbrosos.

Con patio

casi español vacío

empedrado,

fotografiando el silencio

del sol sobre la losa,

de la familia sobre el tiempo.

Horno caliente,

fogón de mucha humareda

y un encaje de hollín allá en las vigas.

Gallinero elevado

a la sombra de la pared húmeda.

Jardín que se alza

en rampa suave, flores

convertidas en hortaliza

y suelo ofrecido al cuerpo

que guste convivir

con hormigas, desenterrar lombrices,

leer revista y nube.

Corral que acaba

en pastos infinitos

donde un caballo espere

el día siguiente

y el hato de bambú reciba

telegramas del viento.

Ha de tener todo eso

más el cuarto de la leña

más el cuarto de los arreos

más el establo

donde pueda apear y montar el amo

con la mayor comodidad.

Ha de ser por fuera

azul 1911.

De lo contrario no es la casa.

 


quarta-feira, 18 de setembro de 2024

VIAGEM AO CENTRO DA NOITE


 

ao Airton Ferreira, em memória de nossas noites bêbadas


A noite chegou tão sorrateira que encobriu as casas sem o menor espanto dos que nelas habitavam. Apenas um menino franzino compreendeu as reticências noturnas. Mas ele sempre as compreendia assim, envolto em uma perplexidade medrosa que se intensificava à medida que a tarde ia se dissolvendo. Sempre quando os sinos da igreja matriz anunciavam as já tão rotineiras ave-marias, ele se detinha inquieto e triste. Uma tristeza esquisita, é certo, contudo real e inexplicável como o próprio homem em sua vida diária, equivocada. Seu semblante, agora calmo, escorre toda uma aventura cega, não obstante polvilhada de imagens que se aspiram ser independente do escuro, das faces inertes que a noite perpetuou nas estradas (em cujas porteiras há uma tremenda angústia impregnada em suas tábuas inúteis). Uma vez espalhado o medo é desnecessário tomar este atalho cheirando a capim-gordura, onde se escondem sapos e grilos anulados em si mesmos diante do desengano de uma existência rasteira em que cruzam homens e animais em busca de abrigo, água e comida após um longo dia de trabalho nas lavouras, nas olarias que margeiam o trilho negro por onde corre a civilização embriagada de si mesma ante a edificação de um templo coletivo onde se dará a consumação do próprio vazio, num vazio maior trabalhado na ilusão de se libertarem do nada. Também a vida humana carece de um sentido intrínseco, disse-me a lua no mesmo instante em que estalava no asfalto, dando-lhe um aspecto a um só tempo assassino e suicida. O que é viver acuado diante da própria imagem que se desconhece, por uma pretensa ingenuidade que viria redimir o homem perante sua ignorância de si mesmo e dos objetos que ele julga dominar? Dói em mim uma imensa vontade de chorar toda esta perda. Gritar. Dizer a todos do medo descomedido diante do iniludível que os mortos tão bem o sabem. Buscar consolo, se já não é possível uma explicação, para acontecimentos absurdos como a morte e a perda definitiva da paixão. E o mundo todo se sintetiza em mim que o estou chorando. Mas a voz do silêncio através do hálito da noite me comunica apenas a sua voz de silêncio. Este mesmo silêncio que forma a tessitura das horas onde me perco, pensando em todos aqueles que na simbiose imaginária do momento também estariam olhando através da vidraça o limitado horizonte de nossas vidas destroçadas. E sonhar com esta possibilidade alheia e coletiva é já fazê-la incorporar-se ao meu pranto de homem, que assim se suaviza. A chuva prossegue e com ela o meu intuito de esclarecer a noite ou esclarecer a mim mesmo dentro desta noite que já me escapa. E na solidão ácida deste instante apenas os meus olhos percorrem a vastidão do mundo e o mistério desta pequena cidade que não decifro. Adormeço afinal com os olhos pregados num ponto qualquer de uma memória extracorpo que não tenho e que se tivesse, certamente ali seria o meu refúgio, ainda que não o pudesse alcançar.